Agora estamos construindo a VI Semana da Luta Antimanicomial, que tem como tema: Uma Flor que rompe o Asfalto: A loucura como (R)existência.
Tal tema, nasce
da percepção da escassez de liberdade para expressar-se na sua loucura e viver
de modo que nossas subjetividades não
sejam estranguladas, e mais, que os direitos individuais não sejam
desconsiderados em nome de uma norma que preza pelo bem-estar do coletivo.
Historicamente, a loucura existe, insiste e resiste todos os dias às diversas
formas de tratamento, às exclusões sociais, às injustiças, ao preconceito, às
relações fragilizadas, aos direitos quase que destituídos, à voz silenciada, à
falsa invisibilidade, à pouca oferta de serviços de qualidade para a população,
à falta de uma formação de qualidade dos profissionais que prezem pelo respeito
e cuidado possibilitando o desenvolvimento da autonomia dos usuários.
Além disso, pretendemos
levantar questões referentes aos direitos humanos no que tange à loucura e aos
usuários de drogas. Por que esse público é tão privado de seus direitos e por
que isso acontece com aprovação de grande parte da sociedade? De que forma
podemos problematizar e pensar em ações que garantam a efetividade dos direitos
fundamentais para essas pessoas? O direito a cidade, à livre circulação, ao
acesso ao lazer, ao acesso aos dispositivos de saúde, assistência, educação,
são todos direitos básicos e ao mesmo tempo negados àqueles que carregam com si
o estigma da loucura e/ou do uso de drogas. Na cidade de João Pessoa o direito
ao Passe Livre para usuários de saúde mental já tem o projeto de lei aprovado,
mas ainda não foi regulamentado. Diante dessa situação estaremos pensando em
ações que possam pressionar as autoridades para que esse direito conquistado
com tanto esforço seja, de fato, efetivado.
Dessa forma, a VI Semana da Luta Antimanicomial, assim como nas edições
anteriores, objetiva agregar um público variado, desde estudantes em formação
(de psicologia, medicina, enfermagem, serviço social, entre outros), passando
por profissionais de saúde que estejam trabalhando nos serviços de saúde
mental, e por fim atingir a toda a sociedade civil, a fim de que se possa
repensar o olhar destinado aos ditos loucos e o lugar das diferenças na nossa
sociedade, objetivando interrogar as visões historicamente construídas sobre a
loucura, sob o julgo da incapacidade e sobre o uso de drogas e as problemáticas
atuais que envolvem esse polêmico tema. Além disso, pretende-se pensar sobre as
políticas públicas criadas para atender aos usuários de drogas e a população em
situação de rua.
Dessa forma, não só pretende continuar possibilitando a reflexão sobre
a necessidade de novos olhares, mais humanos e potentes de criação e libertação,
como também contribuir com o debate atual sobre a garantia de direitos de
usuários dos serviços de saúde mental, possibilitando a produção de novas
subjetividades e desenvolvimento de autonomias no que se refere ao olhar
destinado a loucura e ao uso de drogas.
O alcance dessa intenção já vem se
dando, nos últimos anos, com a realização das cinco Semanas da Luta
Antimanicomiais anteriores e também através das atividades engendradas como
encaminhamentos delas, via grupos de estudo (formado por estudantes e
profissionais); formação dos agentes comunitários de saúde em Unidades de Saúde
da Família de João Pessoa e de educadores físicos das praças públicas da cidade
(através do Projeto “João Pessoa, vida saudável”); das oficinas realizadas com
estudantes em Universidades públicas e privadas; dos grupos de discussão e
vivência facilitados nos encontros regionais e nacionais de estudantes de psicologia,
bem como America Latina afora, como o IX Congreso Internacional de Salud Mental y Derechos Humanos, na
Argentina; da parceria com as
atividades do Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira, tanto pela via
institucional (estágio de estudantes do Coletivo Canto Geral), como pela
participação nas atividades culturais desenvolvidas no hospício (como os saraus
poéticos que acontecem semanalmente); pela participação nas reuniões da
associação dos redutores de danos, formada por profissionais (redutores de danos)
e usuários dos serviços de saúde mental.
Nesse sentido, a experiência da VI Luta da Semana Antimanicomial vem
continuar somando a esses esforços militantes de construir outras
possibilidades de tratamento e vida digna para esses sujeitos, tendo como foco
a garantia dos Direitos Humanos, o empoderamento do usuário, um resgate de sua
cidadania, dos seus laços sociais e, principalmente, o fortalecimento de
subjetividades que lhes permitam se perceber enquanto atores na sociedade,
capazes de manter relações sociais potentes e de exercer sua autonomia por meio
das mais variadas formas de atividades sobre o mundo.
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