quinta-feira, 18 de abril de 2013

VI Semana da Luta Antimanicomial


Agora estamos construindo a VI Semana da Luta Antimanicomial, que tem como tema: Uma Flor que rompe o Asfalto: A loucura como (R)existência.


Tal tema, nasce da percepção da escassez de liberdade para expressar-se na sua loucura e viver de modo que nossas subjetividades  não sejam estranguladas, e mais, que os direitos individuais não sejam desconsiderados em nome de uma norma que preza pelo bem-estar do coletivo. Historicamente, a loucura existe, insiste e resiste todos os dias às diversas formas de tratamento, às exclusões sociais, às injustiças, ao preconceito, às relações fragilizadas, aos direitos quase que destituídos, à voz silenciada, à falsa invisibilidade, à pouca oferta de serviços de qualidade para a população, à falta de uma formação de qualidade dos profissionais que prezem pelo respeito e cuidado possibilitando o desenvolvimento da autonomia dos usuários.
                 Além disso, pretendemos levantar questões referentes aos direitos humanos no que tange à loucura e aos usuários de drogas. Por que esse público é tão privado de seus direitos e por que isso acontece com aprovação de grande parte da sociedade? De que forma podemos problematizar e pensar em ações que garantam a efetividade dos direitos fundamentais para essas pessoas?  O direito a cidade, à livre circulação, ao acesso ao lazer, ao acesso aos dispositivos de saúde, assistência, educação, são todos direitos básicos e ao mesmo tempo negados àqueles que carregam com si o estigma da loucura e/ou do uso de drogas. Na cidade de João Pessoa o direito ao Passe Livre para usuários de saúde mental já tem o projeto de lei aprovado, mas ainda não foi regulamentado. Diante dessa situação estaremos pensando em ações que possam pressionar as autoridades para que esse direito conquistado com tanto esforço seja, de fato, efetivado.
     Dessa forma, a VI Semana da Luta Antimanicomial, assim como nas edições anteriores, objetiva agregar um público variado, desde estudantes em formação (de psicologia, medicina, enfermagem, serviço social, entre outros), passando por profissionais de saúde que estejam trabalhando nos serviços de saúde mental, e por fim atingir a toda a sociedade civil, a fim de que se possa repensar o olhar destinado aos ditos loucos e o lugar das diferenças na nossa sociedade, objetivando interrogar as visões historicamente construídas sobre a loucura, sob o julgo da incapacidade e sobre o uso de drogas e as problemáticas atuais que envolvem esse polêmico tema. Além disso, pretende-se pensar sobre as políticas públicas criadas para atender aos usuários de drogas e a população em situação de rua.
Dessa forma, não só pretende continuar possibilitando a reflexão sobre a necessidade de novos olhares, mais humanos e potentes de criação e libertação, como também contribuir com o debate atual sobre a garantia de direitos de usuários dos serviços de saúde mental, possibilitando a produção de novas subjetividades e desenvolvimento de autonomias no que se refere ao olhar destinado a loucura e ao uso de drogas. 
O alcance dessa intenção já vem se dando, nos últimos anos, com a realização das cinco Semanas da Luta Antimanicomiais anteriores e também através das atividades engendradas como encaminhamentos delas, via grupos de estudo (formado por estudantes e profissionais); formação dos agentes comunitários de saúde em Unidades de Saúde da Família de João Pessoa e de educadores físicos das praças públicas da cidade (através do Projeto “João Pessoa, vida saudável”); das oficinas realizadas com estudantes em Universidades públicas e privadas; dos grupos de discussão e vivência facilitados nos encontros regionais e nacionais de estudantes de psicologia, bem como America Latina afora, como o IX Congreso Internacional de Salud Mental y Derechos Humanos, na Argentina; da parceria com as atividades do Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira, tanto pela via institucional (estágio de estudantes do Coletivo Canto Geral), como pela participação nas atividades culturais desenvolvidas no hospício (como os saraus poéticos que acontecem semanalmente); pela participação nas reuniões da associação dos redutores de danos, formada por profissionais (redutores de danos) e usuários dos serviços de saúde mental.
Nesse sentido, a experiência da VI Luta da Semana Antimanicomial vem continuar somando a esses esforços militantes de construir outras possibilidades de tratamento e vida digna para esses sujeitos, tendo como foco a garantia dos Direitos Humanos, o empoderamento do usuário, um resgate de sua cidadania, dos seus laços sociais e, principalmente, o fortalecimento de subjetividades que lhes permitam se perceber enquanto atores na sociedade, capazes de manter relações sociais potentes e de exercer sua autonomia por meio das mais variadas formas de atividades sobre o mundo.

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